sábado, 28 de maio de 2011

Tempo.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
(Fernando Pessoa)


Andei pensando sobre as travessias que fizemos ao longo de nossas vidas,  elas não são poucas, e são difíceis. Difíceis porque nunca se sabe o que realmente será encontrado do outro lado da "ponte", do "lago", da "montanha". Algumas vezes o comodismo paralisa, é mais fácil permanecer no mesmo lugar do que se arriscar à conhecer o incerto, e então algumas pessoas tentam se convencer de que as coisas vão bem, que o trabalho vai bem, que o amor não acabou, que a culpa é do outro... É difícil perceber em que momento da vida, aquilo que antes era fonte de prazer, se transformou em insatisfação . É difícil deixar pra trás histórias, sentimentos que eram certezas e hoje já não são mais. Não é fácil abandonar o emprego, sair da casa dos pais, mudar de cidade, de profissão, mudar o rumo, se desfazer de coisas velhas como roupas, sapatos e utensílios domésticos, sim, os utensílios domésticos também tem seu valor sentimental, as xícaras então, nem se fala... Não é questão de descartar coisas, pessoas ou sentimentos, e sim de desatar os nós, nó aperta, laço enfeita. O que foi vivido ficará eternizado no tempo. 
Tempo, esse senhor que é invisível aos olhos, intocável, insubstancial, que só pode ser percebido através de memórias, lembranças. 
Não se prenda ao tempo, é preciso deixar algumas coisas para trás, e muitas vezes deixa-las morrer, para depois recomeçar. Isso não significa que elas não foram boas ou importantes, simplesmente tiveram seu  próprio tempo. 
O tempo de viver é sempre o presente, o resto, são só recordações...
Fazer a travessia é acreditar em si mesmo, acreditar que pode mais e melhor, não se contentar com a migalha, estar em busca do que lhe faça feliz, e desatar os nós, mesmo que para isso precise enfrentar tempestades e fantasmas.



sábado, 7 de maio de 2011

Profissão Mãe.

Certo dia perguntei a minha mãe se ela era feliz. Sem hesitar ela respondeu que sua felicidade era ver o sorriso dos filhos! Eu quis que não fosse verdade, mas ela já havia me dado milhares de provas de que era...
Mãe chora quando filho está triste, mãe angustia-se e perde horas de sono quando filho fica doente, mãe ora ao pé da cama pedindo que o sonho do filho se realize, pois o sonho dele é seu próprio sonho!
Tem mãe que diz que morreria por seu filho, será possível amor maior?
Mãe é a única pessoa com quem você briga, discute, contraria e até magoa, e mesmo assim você sabe que pode voltar pro seu colo, seu ombro, seu aconchego, porque o amor não diminuiu, ele continua intacto, sem rupturas, como isso é possível?
A mãe que eu falo aqui, não é só aquela que gera, porque mãe é muito mais do que mera transmissora de genes, a mãe de verdade passa pela gestação psíquica, ela deseja aquela criança, sonha com ela, o seu bebê existe bem antes de chegar ao mundo. Por isso existe mãe que é avó, tia, irmã, mãe do coração!
Ser mãe é uma profissão, na qual se nasce com o dom nato e prepara-se durante toda vida para um dia exercita-la, e eu digo sem medo de errar, que exercitar essa função é mais difícil do que ocupar qualquer grande cargo de liderança... Ser responsável pela constituição de um ser humano é responsabilizar-se em grande parte pelo futuro da humanidade. Apesar dos pequeninos estarem cada vez mais espertos e inteligentes, ainda são os adultos que suprem, ou deveriam suprir suas necessidades físicas e emocionais, para que estes se tornem adolescentes e adultos com boa saúde relacional e mental !
“Toda criança tem direito a vida, saúde, liberdade, educação, cultura e dignidade.” É o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, na prática, não é bem isso que acontece.

Sabe aquele cara, o tal cara mau caráter, aquele que mata, que rouba, que sucumbe, que engana?  Muito antes a vida dele também foi roubada, abandonada, negligenciada. Não é por acaso que um indivíduo desintegra-se.  Os problemas são sociais, sim, mas a violência começa nas micro relações. Sabe-se que laços sanguíneos não são garantia de vínculos saudáveis entre pais e filhos. O abandono físico e emocional muitas vezes acontece dentro do próprio lar. Segundo a OMS há 8 milhões de crianças abandonadas no Brasil, estima-se que 6 milhões em instituições e outros 2 milhões nas ruas, vulneráveis as drogas, prostituição, furtos. A privação de nutriente afetivo, à longo prazo, faz com que estas crianças tornem-se pessoas superficiais em seus relacionamentos e indiferentes ao próximo.
Vimos nas últimas semanas, através da mídia, vários casos de crianças abandonadas pelas mães, e muitos outros ocorrem sem nosso conhecimento. O País está vivenciando o mesmo infanticídio que ocorria no tempo do Brasil Colônia, onde bebês que não eram desejados eram descartados por serem mazelas para sociedade.
As origens do problema são diversas, e não podemos nos isentar delas.É preciso questionar, refletir e agir . Qual é a solução? Planejamento familiar, controle de natalidade, um sistema de processo adotivo mais eficaz?
Ser mãe não é o mesmo que embalar uma boneca, fazer de conta que à alimenta e à leva ao médico, o buraco é bem mais embaixo. 
Volto a falar da minha mãe... Mulher que pensa por três, chora por três, sorri por três, é multiplicada por três e divide-se em três.  Não conheço doação maior, doa a cada dia um tanto de si pelos filhos e já deve ter renunciado muitos sonhos em favor deles, porém estes permanecem ocultos para que não nos sintamos culpados. Me sinto privilegiada por todos os conselhos, puxões de orelha, dedicação, carinho sem medida, e por te-la como modelo exemplar de mãe e mulher.  Parabéns a todas as mulheres, que assim como a minha mãe, são as melhores mães do mundo, que esse dia seja cheio de reconhecimento, beijinhos e carinhos sem fim!