terça-feira, 29 de março de 2011

Eternamente Dependentes

Todo ser humano chega ao mundo com uma grande necessidade de proteção e cuidados, chega indefeso, e são seus pais ou cuidadores que irão suprir suas necessidades primeiras como alimentação, vestimenta e afeto. É através da atenção, holding, continência dos cuidadores que se da o nascimento da subjetividade nas crianças, bem como a ligação delas com o mundo externo, possibilitando a constituição de seres singulares, personalidades únicas. Esse primeiro vínculo da criança com os pais é que irá pré estabelecer a maneira dele relacionar-se com o mundo.
Enquanto somos crianças estamos nos descobrindo, e aos poucos descobrindo que não somos o centro do universo, não somos únicos. Nessa fase da vida somos apenas figurantes, não somos diretamente responsáveis por nosso sucesso ou insucesso. Dependemos muito dos outros, e continuamos dependendo pelo resto de nossas vidas...
É um absurdo quando dizemos que somos independentes.
Na infância precisamos de nossos pais ou alguém que cumpra essa função, a fim de garantir nossa sobrevivência, na adolescência precisamos “mais” dos nossos amigos do que dos nossos pais... E em certo momento, precisamos de um amor, uma diferente forma de amor, alguém que nos admire e nos dê atenção, alguém que admiramos e que compartilhe conosco sonhos, planos, conquistas, tristezas, dificuldades.
Bowby descreveu a teoria do apego e considera a disposição para estabelecer laços emocionais íntimos com indivíduos especiais como sendo um componente básico da natureza humana, já presente no neonato em forma germinal e que continua na vida adulta e na velhice. Durante a primeira infância, os laços são estabelecidos com os pais ou figuras representativas destes, que são procurados para proteção, conforto e suporte. Durante a adolescência saudável e a vida adulta esses laços persistem, sendo, no entanto, complementados por novos laços, comumente de natureza heterossexual. A relação de apego existe por si só e tem função primordial de sobrevivência, proteção. Inicialmente, o único meio de comunicação entre criança e sua mãe é através da expressão emocional e do comportamento que a acompanha. Embora sustentada pela fala a comunicação mediada pela emoção persiste como um traço principal das relações íntimas pelo resto da vida.
Há muitos fatores envolvidos na escolha do par amoroso, entre eles questões biológicas, sociais e psicológicas, sendo impossível eleger um deles como principal.
Todos os relacionamentos humanos possuem aspectos de satisfação e conflitos, um traço inerente a condição humana. Alguns estudiosos citam o vínculo amoroso como favorecedor para o desenvolvimento da personalidade, e na ajuda de problemas emocionais passados, já que os conflitos tendem a se repetir e então podem ser ressignificados diante de um novo contexto familiar.
Amor não é questão de merecimento, é questão de necessidade, e a dependência na medida certa pode ser valiosa. Amor é muito mais do que taquicardia ao ver a pessoa amada, é mais que ruborecer de bochechas e bambear de pernas, é somar e não diminuir, é multiplicar e dividir, é uma equação inexata. No amor se cuida e se é cuidado, se compreende e é compreendido, e pode-se tanto estar seguro quanto inseguro. Mas quando o amor é maduro sempre haverá mais ganhos do que perdas.
" Um intenso egoísmo pode nos proteger contra o sofrimento mental, mas em algum momento, temos que começar a amar para não adoecer" ( Freud)
...continuaremos dependendo de um certo alguém...

sábado, 12 de março de 2011

Por um Triz...

Para tudo na vida existe uma primeira vez, algumas primeiras vezes no entanto não são esperadas. Uma delas aconteceu comigo quinta feira passada. Estava viajando de ônibus e havia no minímo mais uns 40 passageiros dentro dele, o ônibus teve que ficar parado na estrada em torno de meia hora devido a um acidente, ninguém imaginava que alguns quilômetros após nós estaríamos envolvidos em um. Era noite, chovia, e também era a primeira vez em que me sentava em um dos primeiros bancos (poltrona 4), visualisava o horizonte e os pingos que caiam continuadamente no parabrisa, quando derrepente vejo o caminhão que estava à nossa frente parar bruscamente, estávamos pouco distante dele e imediatamente o motorista colocou o pé no freio, foram alguns metros ouvindo o som do freio, mas a colisão foi inevitável. Após o impacto todos começaram a pedir se alguém havia se ferido, sobretudo o motorista... todos estavam salvos, então vieram os agradecimentos a Deus, algumas pessoas choravam depois do susto, outras comentavam "não era pra mim ter vindo hoje", "depois de tantos anos indo à Porto Alegre isso é a primeira vez que me acontece"...
O que teria acontecido se o morista tivesse desviado do caminhão? O que teria acontecido se estivesse dirigindo com mais velocidade ou se estivesse um pouco mais próximo do caminhão à frente? Ou ainda, se aquele caminhão carregasse líquido inflámavel e não cimento?
Talvez vários de nós estariam mortos. Não estamos, será por sorte, destino ou pelo "pulso" firme do motorista, por sua ação precisa? Eu poderia entrar em um longo discurso reflexivo sobre esses três fatores, mas quero me ater a sensação do momento.
Foram só alguns segundos desde a percepção do que iria acontecer até o fato concreto, não deu tempo para pensar em toda vida e nem um filme rodou na minha cabeça, só pensei que poderia voar através daquele parabrisa e que poderia ser meu ponto final. Depois do tumulto, depois de trocar de ônibus e prosseguir a viagem vieram os pensamentos, como questionamentos do que eu teria deixado pendende se não estivesse mais por aqui... Kubler Ross, médica psiquiatra, suíça, estudiosa sobre a Morte e o Morrer  fala sobre o processo pelo qual pacientes em processo de morte vivem, um deles é o momento de acetar as pendências, falar os não ditos que vão sendo engolidos e trancados a sete chaves durante muito tempo e o quanto as pessoas viveriam mais plenas e livres se os resolvessem no decorrer da vida e não os deixassem para o fim, quanta vida deixada para depois por questões inacabadas, por sentimentos escondidos, expressões reprimidas... Diante de uma morte súbita não existe a possibilidade de passar por esse processo.
A maioria de nós não costuma pensar na morte, até mesmo procura evitar, mas aprender a pensar nela serve como uma avaliação constante de como estamos levando a vida, ou deixando ela nos levar. A morte não acontece só para idosos e nem somente para pessoas más, ela pode acontecer a qualquer hora pra qualquer um de nós, ao invés de perguntar "por que comigo?", pergunte "por que não comigo?"
Eu concordo com Mário Quintana quando disse " Morrer, o que me importa? O diabo é deixar de viver". Por isso o temor da morte, por que viver pode ser muito bom. Claro que é preciso doses de coragem, persistência, força, é preciso de equilibrio! Procure seu equilibrio pra poder viver o lado bom da vida e lembre-se daquele velho chavão "não deixe para depois o que se pode fazer hoje".
Gosto muito de um poema de José Saramago que explicita com leveza e beleza a finitude:


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda verdade suportável, o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com  a paz e o sorriso de quem reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

segunda-feira, 7 de março de 2011

É melhor ser um animal racional ou irracional?

...Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado de novo numa barata. Seu penúltimo pensamento humano foi, meu Deus, a casa foi detetizada há dois dias ! Seu último pensamento humano foi para o seu dinheiro rendendo na finaceira e o que o safado do marido, seu herdeiro legal, faria com tudo. Depois desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel. Não pensava em mais nada. Era puro instinto. Morreu em cinco minutos, mas foram os cinco minutos mais felizes da sua vida. Kafka não significa nada para as baratas...
(A Metamorfose - L.F. Veríssimo).
Quem nunca pensou em se transformar num animal não humano para fugir das atrocidades que a vida em sociedade nos impõe? Para fugir da sobrecarga do trabalho, para fugir do abuso das autoridades, do desrespeito, da violência, da guerra, do caos ?
Um animal não precisa provar nada a ninguém, não precisa ser o melhor, não vive sob a pressão dos padrões de beleza e nem tem contas a pagar no final do mês. No reino animal, em linhas gerais, macho e fêmea acasalam, ela tem lindos filhotinhos e demoram apenas alguns dias ou meses para esses serem responsáveis por suas próprias vidas. Tudo muito prático, sem maiores complicações.
Se eu pudesse por alguns momentos ser um animal, seria uma águia, sobrevoaria a imensidão do mar, iria a vários lugares que desejo conhecer, encurtaria distâncias para visualizar as pessoas que gosto mas estão longe de mim... sentiria o vento e a sensação de liberdade plena, sem amarras, sem medo, sem impedimentos... até aqui tudo bem...
Mas animais não humanos também sofrem, cachorros de rua passam friu e fome e são maltrados, baratas vivem fugindo do "bombardeio" de inceticidas, as formigas trabalham pesado para garantir seu sustento... É tudo uma questão de classe !
Assim como não escolhemos a família ou o lugar onde queríamos nascer, provavelmente os animais também não tenham esse privilégio e eu poderia ter nascido na família de um roedor ao invés a de uma ave. 
Todos nós seres vivos enfrentamos as adversidades de viver nesse mundo.
Veríssimo, pensando bem, eu ainda prefiro ser um animal sentimental, pelo menos temos o poder de fazer algumas escolhas, criar alternativas, a racionalidade pode ser muito útil. Eu ainda prefiro viver todas as emoções que minha espécie é capaz de experimentar !

sábado, 5 de março de 2011

Aniversário !

Hoje completei 24 anos de existência, estranha sensação... as pessoas costumam parabenisar-nos na data de nascimento, desejar felicidades e realizações, a consciência de que é preciso ser feliz e que essa é a busca incessante de todo ser humano se torna mais presente nesse dia, então andei perguntando-me o que fiz de bom durante todo esse tempo... o que fiz de bom para os outros e para mim mesma... colhi lembranças singelas no campo da minha memória, mas há algo dentro de mim que clama por mais, há uma calma em mim que não condiz com minha pressa de viver e ser feliz. Talvez essa pressa seja meu maior defeito, querer ser feliz agora e não depois, sabido que é preciso recolher-se em algumas estações, deixar algumas coisas morrerem para outras virem mais saudáveis e belas, o problema é quando o outono e o inverno se prolongam, quando parecem não querer ir embora. Esse desequilíbrio "clímatico" apresenta riscos, tudo que é exagerado leva ao sofrimento... não sei se uso preto ou branco, se uso casaco ou apenas uma blusa leve... o que fazer nesse meio tempo onde a vida parece estar em turbulência e é preciso encontrar sustentação em algo que não nos deixe cair? Não tenho a utopia de desejar dias infindavéis de alegria, apenas desejo uma constância que me leve a crer que assim como a tristeza vem ela pode ir embora...
A minha saída de emergência foi escrever, algo que faço geralmente somente para mim mesma, mas hoje resolvi atrever-me a dividir meus pensamentos, foi preciso coragem e um pouco de ousadia para transformar meus devaneios em frases, foi preciso o décimo quarto ano para ter certeza de quê nunca terei certeza... no auge da minha ingenuidade eu cheguei a pensar que quando completasse 24 anos seria uma mulher adulta, segura de si, com a vida toda traçada milimetricamente e sem sair da linha... bobagem... aprendemos com as experiências, ganha-se alguns conhecimentos, porém esses tornan-se insuficientes em algum ponto do caminho. Hoje eu sei que sou mulher as vezes madura, as vezes insegura, algumas vezes sinto-me uma criança indefesa, mas com certeza bem menos ingênua.
Os parabéns que hoje recebi me fizeram perceber que algum bem eu fiz, que o meu afeto afetou algumas pessoas e isso me faz perceber o quanto fui feliz... hoje não estou feliz como gostaria, mas serei feliz! E essa montanha russa vai continuar até que sua engrenagem resolva parar...