segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fragmentos.

Existem alguns momentos na vida em que a vida parece morrer, não estou falando em morte do corpo, estou falando em morte dos sentidos, na morte dos significados, na morte das paixões... nesses momentos o corpo pesa, movimentar-se fica difícil, como se estivesse carregando quilos em cima dos ombros, e a mente é invadida por uma neblina que não permite visualizar luz no fim do túnel... a gente se sente assim, despedaçado, como os cacos de vidro de um copo caido no chão... Por algum tempo parece inconcebível a ideia de recompor-se, mas mais cedo ou mais tarde a neblina acaba indo embora e a claridade permite enxergar outros horizontes. Há pouco tempo descobri que nada é para sempre, e nada é insubstituível, isso me entristecia, talvez fosse a ânsia por certezas... hoje eu creio que essa transitoriedade nos possibilita reconstruir, reviver, recomeçar, ser mais e melhor.
Quando fragmentos de morte tentam me capturar, eu rendo-me por algum tempo, deixo os super poderes para os super heróis !
Durante o tempo da rendição entro ( a vida) em negociação com meus desassossegos... "eu prometo que continuarei caminhando, percorrendo as estradas, tomando cuidado com os desníveis da pista, com as curvas perigosas, e as vezes aumentando a velocidade nas retas, sentindo o vento batento no rosto, a adrenalina percorrendo minha corrente sanguínea... As vezes diminuirei a velocidade pelo mesmo prazer, apreciar a natureza, as maravilhas que inundam minha alma e alimentam minha esperança. Em troca, peço aos meus desassossegos que repousem em meus braços, que calam-se por alguns instantes, que escutem o meu silêncio, que entendam a minha dor e que depois durmam em paz, até a hora de acordar !" E então a morte adormece e a vida resurge...

Tente perder o medo de render-se em alguma curva da estrada,  perder o medo de render-se é aceitar com mais leveza as frustrações, e saber que a infelicidade é uma das coisas que nos torna humanos, é aceitar que a fraqueza faz parte, e que as vezes entrar no seu casulo faz bem, a gente sempre precisa de um tempo consigo mesmo, para se conhecer e se reinventar, autoconhecimento nunca é demais ! Senão corremos o risco de sermos os mesmos por toda vida. Por isso, permito-me morrer de vez em quando.
É magnífica nossa capacidade de resiliência, (a resiliência é um conceito psicológico emprestado da física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas e voltar ao normal), talvez não se volte a ser como antes, mas talvez se volte mais forte, se volte mais resistente para enfrentar novas quedas.

Que nossos fraguentos de vida sejam mais fortes do que os de morte, e que a rendição seja temporária, mas que seja aceita com respeito. A dor de alguém nunca é maior ou menor, é simplesmente sua dor...
  As vezes se perde mais usando uma máscara de super herói, do que se ganha reconhecendo a queda !

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Certos amigos !

O dia do amigo foi adotado em Buenos Aires, Argentina, com o Decreto nº 235/79,
se
O Dia do Amigo, celebrado no dia 20 de julho, foi primeiramente adotado em Bueno Aieres, na Argentina, com o Decreto nº 235/79, sendo que foi gradualmente adotado em outras partes do mundo.
A data foi criada pelo argentino Enrique Ernesto Febbararo. Com a chegada do homem à lua, em 20 de julho de 1969, ele enviou cerca de quatro mil cartas para diversos países e idiomas com o intuito de instituir o Dia do Amigo. Febbraro considerava a chegada do homem a lua um feito que demonstra que se o homem se unir com seus semelhantes, não há objetivos impossíveis.
As pessoas não se escolhem por acaso, as pessoas se escolhem por identificações e por se “completarem” de alguma maneira, assim acontece em todas as relações, com os amigos não seria diferente... Você sempre terá alguns “pedacinhos” dos seus amigos e eles sempre terão alguns seus...
Amizade pra mim pode ser definida como um sentimento, um dos mais nobres e transparentes possíveis. Amizade chega de mansinho, sem pedir licença e sem pedir nada em troca. Um amigo de verdade vibra com suas conquistas e chora com suas derrotas, diz a verdade por mais que doa, e também se cala pra lhe poupar... Amigo não é perfeito, amigo é ser humano, por isso mesmo algumas vezes pode até lhe magoar, mas isso não será maior do que o carinho e a cumplicidade existente.
Inúmeros são os encontros na vida, somente os amigos permanecem, mesmo na distância eles se fazem presentes. Seja através de um e-mail, uma mensagem, um telefonema, ou até mesmo uma foto no porta- retrato...
Amigo de verdade é aquele que deu colorido à sua vida e tornou ela mais leve e feliz, diminuiu o fardo dos dias difíceis... sem eles sua biografia não teria a menor graça, as cenas da trama seriam tão vazias, que o filme não passaria de um drama...

Alguns amigos partiram há tempos, seguiram rumos contrários aos meus, foram ser feliz sei lá aonde, mas o importante é que foram ser feliz... E que deixaram comigo as lembranças mais lindas e o amor mais sincero, e eu serei imensamente grata pelo resto dos meus dias...


Lá vai um soneto de Vinícios de Morais, que com suas belas palavras retratam o encontro da amizade...


Soneto do Amigo


Enfim, depois de tanto erro passado 
Tantas retaliações, tanto perigo 
Eis que ressurge noutro o velho amigo 
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado 
Com olhos que contêm o olhar antigo 
Sempre comigo um pouco atribulado 
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano 
Sabendo se mover e comover 
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

sábado, 28 de maio de 2011

Tempo.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
(Fernando Pessoa)


Andei pensando sobre as travessias que fizemos ao longo de nossas vidas,  elas não são poucas, e são difíceis. Difíceis porque nunca se sabe o que realmente será encontrado do outro lado da "ponte", do "lago", da "montanha". Algumas vezes o comodismo paralisa, é mais fácil permanecer no mesmo lugar do que se arriscar à conhecer o incerto, e então algumas pessoas tentam se convencer de que as coisas vão bem, que o trabalho vai bem, que o amor não acabou, que a culpa é do outro... É difícil perceber em que momento da vida, aquilo que antes era fonte de prazer, se transformou em insatisfação . É difícil deixar pra trás histórias, sentimentos que eram certezas e hoje já não são mais. Não é fácil abandonar o emprego, sair da casa dos pais, mudar de cidade, de profissão, mudar o rumo, se desfazer de coisas velhas como roupas, sapatos e utensílios domésticos, sim, os utensílios domésticos também tem seu valor sentimental, as xícaras então, nem se fala... Não é questão de descartar coisas, pessoas ou sentimentos, e sim de desatar os nós, nó aperta, laço enfeita. O que foi vivido ficará eternizado no tempo. 
Tempo, esse senhor que é invisível aos olhos, intocável, insubstancial, que só pode ser percebido através de memórias, lembranças. 
Não se prenda ao tempo, é preciso deixar algumas coisas para trás, e muitas vezes deixa-las morrer, para depois recomeçar. Isso não significa que elas não foram boas ou importantes, simplesmente tiveram seu  próprio tempo. 
O tempo de viver é sempre o presente, o resto, são só recordações...
Fazer a travessia é acreditar em si mesmo, acreditar que pode mais e melhor, não se contentar com a migalha, estar em busca do que lhe faça feliz, e desatar os nós, mesmo que para isso precise enfrentar tempestades e fantasmas.



sábado, 7 de maio de 2011

Profissão Mãe.

Certo dia perguntei a minha mãe se ela era feliz. Sem hesitar ela respondeu que sua felicidade era ver o sorriso dos filhos! Eu quis que não fosse verdade, mas ela já havia me dado milhares de provas de que era...
Mãe chora quando filho está triste, mãe angustia-se e perde horas de sono quando filho fica doente, mãe ora ao pé da cama pedindo que o sonho do filho se realize, pois o sonho dele é seu próprio sonho!
Tem mãe que diz que morreria por seu filho, será possível amor maior?
Mãe é a única pessoa com quem você briga, discute, contraria e até magoa, e mesmo assim você sabe que pode voltar pro seu colo, seu ombro, seu aconchego, porque o amor não diminuiu, ele continua intacto, sem rupturas, como isso é possível?
A mãe que eu falo aqui, não é só aquela que gera, porque mãe é muito mais do que mera transmissora de genes, a mãe de verdade passa pela gestação psíquica, ela deseja aquela criança, sonha com ela, o seu bebê existe bem antes de chegar ao mundo. Por isso existe mãe que é avó, tia, irmã, mãe do coração!
Ser mãe é uma profissão, na qual se nasce com o dom nato e prepara-se durante toda vida para um dia exercita-la, e eu digo sem medo de errar, que exercitar essa função é mais difícil do que ocupar qualquer grande cargo de liderança... Ser responsável pela constituição de um ser humano é responsabilizar-se em grande parte pelo futuro da humanidade. Apesar dos pequeninos estarem cada vez mais espertos e inteligentes, ainda são os adultos que suprem, ou deveriam suprir suas necessidades físicas e emocionais, para que estes se tornem adolescentes e adultos com boa saúde relacional e mental !
“Toda criança tem direito a vida, saúde, liberdade, educação, cultura e dignidade.” É o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, na prática, não é bem isso que acontece.

Sabe aquele cara, o tal cara mau caráter, aquele que mata, que rouba, que sucumbe, que engana?  Muito antes a vida dele também foi roubada, abandonada, negligenciada. Não é por acaso que um indivíduo desintegra-se.  Os problemas são sociais, sim, mas a violência começa nas micro relações. Sabe-se que laços sanguíneos não são garantia de vínculos saudáveis entre pais e filhos. O abandono físico e emocional muitas vezes acontece dentro do próprio lar. Segundo a OMS há 8 milhões de crianças abandonadas no Brasil, estima-se que 6 milhões em instituições e outros 2 milhões nas ruas, vulneráveis as drogas, prostituição, furtos. A privação de nutriente afetivo, à longo prazo, faz com que estas crianças tornem-se pessoas superficiais em seus relacionamentos e indiferentes ao próximo.
Vimos nas últimas semanas, através da mídia, vários casos de crianças abandonadas pelas mães, e muitos outros ocorrem sem nosso conhecimento. O País está vivenciando o mesmo infanticídio que ocorria no tempo do Brasil Colônia, onde bebês que não eram desejados eram descartados por serem mazelas para sociedade.
As origens do problema são diversas, e não podemos nos isentar delas.É preciso questionar, refletir e agir . Qual é a solução? Planejamento familiar, controle de natalidade, um sistema de processo adotivo mais eficaz?
Ser mãe não é o mesmo que embalar uma boneca, fazer de conta que à alimenta e à leva ao médico, o buraco é bem mais embaixo. 
Volto a falar da minha mãe... Mulher que pensa por três, chora por três, sorri por três, é multiplicada por três e divide-se em três.  Não conheço doação maior, doa a cada dia um tanto de si pelos filhos e já deve ter renunciado muitos sonhos em favor deles, porém estes permanecem ocultos para que não nos sintamos culpados. Me sinto privilegiada por todos os conselhos, puxões de orelha, dedicação, carinho sem medida, e por te-la como modelo exemplar de mãe e mulher.  Parabéns a todas as mulheres, que assim como a minha mãe, são as melhores mães do mundo, que esse dia seja cheio de reconhecimento, beijinhos e carinhos sem fim!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Entre o bem e o mal, você escolhe qual?

Então você acorda, toma seu café, deixa seus filhos na escola e vai trabalhar, você aguarda ansiosamente pelo fim de semana para tomar uma cerveja com os amigos, reunir a família para um almoço, assistir a um belo show de música, poesia, teatro, ou ler um livro na varanda... Uma rotina que não apresenta muitas flutuações... Mas de repente você acorda! Sim, como num sonho, acorda porque dias de sossego já não são rotina faz tempo.
A verdade é que uma conhecida de todos nós, a tal TELEVISÃO, não nos deixa esquecer que o mundo vive em guerra contínua, que corruptos continuam esbanjando cinismo em favor dos seus prazeres, que o ódio inflamado gera a violência que oprime e paralisa, que o pai de família que paga corretamente seus impostos frequentemente “tem” que recorrer aos santos quando um de seus filhos adoece, pois os médicos sumiram dos postos de saúde... Sorte daqueles que adoecem no momento em que o DOUTOR resolve fazer uma visita ao seu local de trabalho. Catástrofes naturais e intencionais, todas produzidas pelo mesmo homem! Em algum momento elas o afetarão.
Não me levem a mal, não está em julgamento quem são os culpados, eles estão em toda parte, entre negros e brancos, entre ricos e pobres, entre políticos, médicos, executivos, vendedores, advogados, psicólogos...
Entristece constatar que tantos habitantes desse mundo agem impulsionados pela ganância, ferem a dignidade humana, fabricam a discórdia e nem se quer sabem o que é o perdão.
 E isso sempre existiu desde que se tem notícias sobre vida na Terra. E os problemas infelizmente estão longe de serem solucionados, é como quando alguém adquire diabetes na vida adulta, sabemos que os remédios sozinhos não são suficientes, é preciso mudar todo o modo de vida.
Não ha indício de que, virá de outro planeta, o socorro que nos salve de nós mesmos. Somos minúsculos diante do universo, mas gigantes na existência. Eu ainda acredito nas boas intenções, em pessoas empenhadas em ajudar o próximo e investir energias na restauração do planeta, existe muita GENTE espalhada neste globo azul fazendo o bem, a salvação só poderá acontecer a partir de nós mesmos.
Mergulhados numa enxurrada de más notícias, não há como não nos sentirmos afetados, afinal é a vida de cada um que está em jogo, o fim do mundo acontece todos os dias. Mas o mundo também renasce a cada dia. O mundo começa nas mãos daqueles que afagam a dor, que plantam e colhem a verdade, que constroem amizades; nos olhos que falam do amor; nas bocas que silenciam para ouvir o pedido de ajuda; no tato que reconhece a fragilidade e a coragem de ser homem e ser mulher.
Assim como existem os “bandidos”, também existem muitos heróis, e isso significa que nem tudo está perdido. Honestidade e solidariedade são poderes essenciais para vencer o mal, não há outro caminho, deve ser um tráfego de mão única. O mundo pede socorro num tom desesperador, não vamos tapar nossos ouvidos!
 

Apesar de sermos todos constituídos de meros átomos, assim como as esponjas, temos sentimentos, essa coisa inexplicável que faz a gente querer acordar todas as manhãs, apesar de existirem alguns dias nos quais não queríamos que tivessem começado... Não quero que meus átomos se desintegrem, nem os seus... Apesar de vivermos preenchendo o vazio que constitui o universo, eu gosto desse planeta, mas ele só continuará vivo se nos unirmos em prol da sua sobrevivência !

terça-feira, 29 de março de 2011

Eternamente Dependentes

Todo ser humano chega ao mundo com uma grande necessidade de proteção e cuidados, chega indefeso, e são seus pais ou cuidadores que irão suprir suas necessidades primeiras como alimentação, vestimenta e afeto. É através da atenção, holding, continência dos cuidadores que se da o nascimento da subjetividade nas crianças, bem como a ligação delas com o mundo externo, possibilitando a constituição de seres singulares, personalidades únicas. Esse primeiro vínculo da criança com os pais é que irá pré estabelecer a maneira dele relacionar-se com o mundo.
Enquanto somos crianças estamos nos descobrindo, e aos poucos descobrindo que não somos o centro do universo, não somos únicos. Nessa fase da vida somos apenas figurantes, não somos diretamente responsáveis por nosso sucesso ou insucesso. Dependemos muito dos outros, e continuamos dependendo pelo resto de nossas vidas...
É um absurdo quando dizemos que somos independentes.
Na infância precisamos de nossos pais ou alguém que cumpra essa função, a fim de garantir nossa sobrevivência, na adolescência precisamos “mais” dos nossos amigos do que dos nossos pais... E em certo momento, precisamos de um amor, uma diferente forma de amor, alguém que nos admire e nos dê atenção, alguém que admiramos e que compartilhe conosco sonhos, planos, conquistas, tristezas, dificuldades.
Bowby descreveu a teoria do apego e considera a disposição para estabelecer laços emocionais íntimos com indivíduos especiais como sendo um componente básico da natureza humana, já presente no neonato em forma germinal e que continua na vida adulta e na velhice. Durante a primeira infância, os laços são estabelecidos com os pais ou figuras representativas destes, que são procurados para proteção, conforto e suporte. Durante a adolescência saudável e a vida adulta esses laços persistem, sendo, no entanto, complementados por novos laços, comumente de natureza heterossexual. A relação de apego existe por si só e tem função primordial de sobrevivência, proteção. Inicialmente, o único meio de comunicação entre criança e sua mãe é através da expressão emocional e do comportamento que a acompanha. Embora sustentada pela fala a comunicação mediada pela emoção persiste como um traço principal das relações íntimas pelo resto da vida.
Há muitos fatores envolvidos na escolha do par amoroso, entre eles questões biológicas, sociais e psicológicas, sendo impossível eleger um deles como principal.
Todos os relacionamentos humanos possuem aspectos de satisfação e conflitos, um traço inerente a condição humana. Alguns estudiosos citam o vínculo amoroso como favorecedor para o desenvolvimento da personalidade, e na ajuda de problemas emocionais passados, já que os conflitos tendem a se repetir e então podem ser ressignificados diante de um novo contexto familiar.
Amor não é questão de merecimento, é questão de necessidade, e a dependência na medida certa pode ser valiosa. Amor é muito mais do que taquicardia ao ver a pessoa amada, é mais que ruborecer de bochechas e bambear de pernas, é somar e não diminuir, é multiplicar e dividir, é uma equação inexata. No amor se cuida e se é cuidado, se compreende e é compreendido, e pode-se tanto estar seguro quanto inseguro. Mas quando o amor é maduro sempre haverá mais ganhos do que perdas.
" Um intenso egoísmo pode nos proteger contra o sofrimento mental, mas em algum momento, temos que começar a amar para não adoecer" ( Freud)
...continuaremos dependendo de um certo alguém...

sábado, 12 de março de 2011

Por um Triz...

Para tudo na vida existe uma primeira vez, algumas primeiras vezes no entanto não são esperadas. Uma delas aconteceu comigo quinta feira passada. Estava viajando de ônibus e havia no minímo mais uns 40 passageiros dentro dele, o ônibus teve que ficar parado na estrada em torno de meia hora devido a um acidente, ninguém imaginava que alguns quilômetros após nós estaríamos envolvidos em um. Era noite, chovia, e também era a primeira vez em que me sentava em um dos primeiros bancos (poltrona 4), visualisava o horizonte e os pingos que caiam continuadamente no parabrisa, quando derrepente vejo o caminhão que estava à nossa frente parar bruscamente, estávamos pouco distante dele e imediatamente o motorista colocou o pé no freio, foram alguns metros ouvindo o som do freio, mas a colisão foi inevitável. Após o impacto todos começaram a pedir se alguém havia se ferido, sobretudo o motorista... todos estavam salvos, então vieram os agradecimentos a Deus, algumas pessoas choravam depois do susto, outras comentavam "não era pra mim ter vindo hoje", "depois de tantos anos indo à Porto Alegre isso é a primeira vez que me acontece"...
O que teria acontecido se o morista tivesse desviado do caminhão? O que teria acontecido se estivesse dirigindo com mais velocidade ou se estivesse um pouco mais próximo do caminhão à frente? Ou ainda, se aquele caminhão carregasse líquido inflámavel e não cimento?
Talvez vários de nós estariam mortos. Não estamos, será por sorte, destino ou pelo "pulso" firme do motorista, por sua ação precisa? Eu poderia entrar em um longo discurso reflexivo sobre esses três fatores, mas quero me ater a sensação do momento.
Foram só alguns segundos desde a percepção do que iria acontecer até o fato concreto, não deu tempo para pensar em toda vida e nem um filme rodou na minha cabeça, só pensei que poderia voar através daquele parabrisa e que poderia ser meu ponto final. Depois do tumulto, depois de trocar de ônibus e prosseguir a viagem vieram os pensamentos, como questionamentos do que eu teria deixado pendende se não estivesse mais por aqui... Kubler Ross, médica psiquiatra, suíça, estudiosa sobre a Morte e o Morrer  fala sobre o processo pelo qual pacientes em processo de morte vivem, um deles é o momento de acetar as pendências, falar os não ditos que vão sendo engolidos e trancados a sete chaves durante muito tempo e o quanto as pessoas viveriam mais plenas e livres se os resolvessem no decorrer da vida e não os deixassem para o fim, quanta vida deixada para depois por questões inacabadas, por sentimentos escondidos, expressões reprimidas... Diante de uma morte súbita não existe a possibilidade de passar por esse processo.
A maioria de nós não costuma pensar na morte, até mesmo procura evitar, mas aprender a pensar nela serve como uma avaliação constante de como estamos levando a vida, ou deixando ela nos levar. A morte não acontece só para idosos e nem somente para pessoas más, ela pode acontecer a qualquer hora pra qualquer um de nós, ao invés de perguntar "por que comigo?", pergunte "por que não comigo?"
Eu concordo com Mário Quintana quando disse " Morrer, o que me importa? O diabo é deixar de viver". Por isso o temor da morte, por que viver pode ser muito bom. Claro que é preciso doses de coragem, persistência, força, é preciso de equilibrio! Procure seu equilibrio pra poder viver o lado bom da vida e lembre-se daquele velho chavão "não deixe para depois o que se pode fazer hoje".
Gosto muito de um poema de José Saramago que explicita com leveza e beleza a finitude:


Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda verdade suportável, o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com  a paz e o sorriso de quem reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

segunda-feira, 7 de março de 2011

É melhor ser um animal racional ou irracional?

...Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado de novo numa barata. Seu penúltimo pensamento humano foi, meu Deus, a casa foi detetizada há dois dias ! Seu último pensamento humano foi para o seu dinheiro rendendo na finaceira e o que o safado do marido, seu herdeiro legal, faria com tudo. Depois desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel. Não pensava em mais nada. Era puro instinto. Morreu em cinco minutos, mas foram os cinco minutos mais felizes da sua vida. Kafka não significa nada para as baratas...
(A Metamorfose - L.F. Veríssimo).
Quem nunca pensou em se transformar num animal não humano para fugir das atrocidades que a vida em sociedade nos impõe? Para fugir da sobrecarga do trabalho, para fugir do abuso das autoridades, do desrespeito, da violência, da guerra, do caos ?
Um animal não precisa provar nada a ninguém, não precisa ser o melhor, não vive sob a pressão dos padrões de beleza e nem tem contas a pagar no final do mês. No reino animal, em linhas gerais, macho e fêmea acasalam, ela tem lindos filhotinhos e demoram apenas alguns dias ou meses para esses serem responsáveis por suas próprias vidas. Tudo muito prático, sem maiores complicações.
Se eu pudesse por alguns momentos ser um animal, seria uma águia, sobrevoaria a imensidão do mar, iria a vários lugares que desejo conhecer, encurtaria distâncias para visualizar as pessoas que gosto mas estão longe de mim... sentiria o vento e a sensação de liberdade plena, sem amarras, sem medo, sem impedimentos... até aqui tudo bem...
Mas animais não humanos também sofrem, cachorros de rua passam friu e fome e são maltrados, baratas vivem fugindo do "bombardeio" de inceticidas, as formigas trabalham pesado para garantir seu sustento... É tudo uma questão de classe !
Assim como não escolhemos a família ou o lugar onde queríamos nascer, provavelmente os animais também não tenham esse privilégio e eu poderia ter nascido na família de um roedor ao invés a de uma ave. 
Todos nós seres vivos enfrentamos as adversidades de viver nesse mundo.
Veríssimo, pensando bem, eu ainda prefiro ser um animal sentimental, pelo menos temos o poder de fazer algumas escolhas, criar alternativas, a racionalidade pode ser muito útil. Eu ainda prefiro viver todas as emoções que minha espécie é capaz de experimentar !

sábado, 5 de março de 2011

Aniversário !

Hoje completei 24 anos de existência, estranha sensação... as pessoas costumam parabenisar-nos na data de nascimento, desejar felicidades e realizações, a consciência de que é preciso ser feliz e que essa é a busca incessante de todo ser humano se torna mais presente nesse dia, então andei perguntando-me o que fiz de bom durante todo esse tempo... o que fiz de bom para os outros e para mim mesma... colhi lembranças singelas no campo da minha memória, mas há algo dentro de mim que clama por mais, há uma calma em mim que não condiz com minha pressa de viver e ser feliz. Talvez essa pressa seja meu maior defeito, querer ser feliz agora e não depois, sabido que é preciso recolher-se em algumas estações, deixar algumas coisas morrerem para outras virem mais saudáveis e belas, o problema é quando o outono e o inverno se prolongam, quando parecem não querer ir embora. Esse desequilíbrio "clímatico" apresenta riscos, tudo que é exagerado leva ao sofrimento... não sei se uso preto ou branco, se uso casaco ou apenas uma blusa leve... o que fazer nesse meio tempo onde a vida parece estar em turbulência e é preciso encontrar sustentação em algo que não nos deixe cair? Não tenho a utopia de desejar dias infindavéis de alegria, apenas desejo uma constância que me leve a crer que assim como a tristeza vem ela pode ir embora...
A minha saída de emergência foi escrever, algo que faço geralmente somente para mim mesma, mas hoje resolvi atrever-me a dividir meus pensamentos, foi preciso coragem e um pouco de ousadia para transformar meus devaneios em frases, foi preciso o décimo quarto ano para ter certeza de quê nunca terei certeza... no auge da minha ingenuidade eu cheguei a pensar que quando completasse 24 anos seria uma mulher adulta, segura de si, com a vida toda traçada milimetricamente e sem sair da linha... bobagem... aprendemos com as experiências, ganha-se alguns conhecimentos, porém esses tornan-se insuficientes em algum ponto do caminho. Hoje eu sei que sou mulher as vezes madura, as vezes insegura, algumas vezes sinto-me uma criança indefesa, mas com certeza bem menos ingênua.
Os parabéns que hoje recebi me fizeram perceber que algum bem eu fiz, que o meu afeto afetou algumas pessoas e isso me faz perceber o quanto fui feliz... hoje não estou feliz como gostaria, mas serei feliz! E essa montanha russa vai continuar até que sua engrenagem resolva parar...